segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

No ritmo da esculhambação

A nomeação de uma deputada federal do PTB - RJ para o Ministério do Trabalho continua rendendo onda de indignação, a exemplo das ações populares impetradas na Justiça Federal do Rio de Janeiro, por membros do Movimento dos Advogados Trabalhistas Independentes (Miti), com a finalidade de impedir a posse da filha do presidente do PTB e ex-deputado federal, marcada para esta terça-feira.
Segundo um advogado, o grupo decidiu entrar com ações em várias comarcas, por questão de segurança, ou seja, "Se uma indeferir, pode ser que outra aceite (a liminar que pede a suspensão da posse)".
O advogado contou ainda que os processos podem chegar até outros estados, porque, "Se perdermos, vamos entrar com ações no Brasil inteiro, como aconteceu no caso do Lula", citando o precedente de quando o ex-presidente foi nomeado pela presidente afastada para a Casa Civil e acabou tendo a posse suspensa.
A acusação de descumprimento da lei trabalhista não é a única que recai sobre a deputada, posto que, de acordo com O Globo, as 10 parcelas de R$ 1.400,00 que compõem o acordo feito entre a futura ministra do Trabalho e seu ex-empregado estão sendo transferidos da conta de uma funcionária do gabinete dela, fato que causa estranheza, quando se sabe que a dívida é da deputada.
O Sindicato dos Advogados do Rio de Janeiro ressaltou, de forma enfática, que "Esta nomeação é um deboche contra milhões de trabalhadores brasileiros, que têm seus direitos trabalhistas, hoje, ameaçados por uma reforma que Cristiane Brasil ajudou a aprovar. Mas o pior de tudo é a nomeação para ministra do Trabalho de uma cidadã que não observou os direitos trabalhistas mais elementares de dois de seus empregados".
Na ocasião, a deputada carioca se defendeu, afirmando que "ambas as acusações são injustas", muito embora a Justiça deu ganho de causa aos ex-empregados, reconhecendo o direito deles. 
O advogado de um dos motoristas que processou a mencionada deputada, por ter deixado de assinar a Carteira de Trabalho, disse ao jornal O Globo que a base dos casos é uma só: "o princípio da moralidade. Se ela infringe as leis trabalhistas, não pode ser ministra do Trabalho".
Somente nas piores republiquetas, os principais assessores do presidente do país, os titulares dos ministérios (nem se pode chamar isso de ministro) são integrados por parlamentares, que foram eleitos para defender os interesses do povo.
Não obstante, no país tupiniquim, além de nomear congressista para ser ministro, a pessoa escolhida ainda tem a índole sob suspeita e o acordo, em forma de negociata, foi embasado por meio do mais lamentável e vil fisiologismo carimbado com a chancela do abominável toma lá, dá cá, tendo o governo a garantia do apoio dessa aliança na aprovação de seus projetos no Congresso Nacional.
Trata-se de verdadeiro caso vexaminoso e aviltante da história republicana, quando se sabe que o pai da futura titular do Ministério do Trabalho foi quem tratou da negociata diretamente com o mandatário do país, para colocá-la lá, sob as bênçãos do choro paterno, em cena patética e lastimável.
O Brasil - inclusive o presidente do país - precisa saber que, nas nações sérias, civilizadas e desenvolvidas, em termos políticos e democráticos, os cargos de ministros são ocupados não por integrantes do Parlamento, sem a devida experiência para tanto e em troca de favores de qualquer espécie, mas sim por pessoas íntegras escolhidas exclusivamente pelo sistema do mérito, observada a devida competência, comprovada por suas capacidade e experiência na área a ser por elas comandadas, cujo caráter está acima de qualquer suspeita, não podendo jamais terem implicação com a Justiça, muito menos serem obrigadas ao pagamento de salários de seus ex-empregados pela via judicial, porque isso demonstra verdadeira esculhambação ética e moral, absolutamente incompatível com a seriedade que precisa imperar nas atividades da administração do país. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 8 de janeiro de 2018

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