quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Desrespeito à integridade moral

Possivelmente, na tentativa de ser simpático, o presidente do país disse que “mesmo se Lula for impedido de se candidatar nas eleições de outubro, o ex-presidente petista não estará morto politicamente.”.
O peemedebista ressaltou que “o carisma, a imagem e o discurso de Lula formarão parte do ambiente eleitoral neste ano, independentemente das consequências da Lei da Ficha Limpa. Se não sustentados pelo próprio ex-presidente, por algum candidato do PT apoiado por ele, ou mesmo por alguém de fora do partido identificado com as bandeiras petistas.”.
O presidente disse ainda que “Não é sem razão que ele ocupa uma das primeiras posições nas pesquisas de opinião”.
O ex-aliado do PT também opinou no sentido de que "De certa forma, a não participação de Lula na eleição tensiona o País. A figura do Lula é de muito carisma, (...)".
Ele analisou o quadro político, tendo dito que “Eu, pessoalmente, acharia, sobre o foco político, que se ele participasse e fosse derrotado, seria melhor para o país”.
A fala do presidente vem na linha da confirmação, em segunda instância, da condenação à prisão do petista, na ação penal envolvendo o tríplex no Guarujá (SP), quando o tribunal, a par de confirmar a sentença do juiz de primeira instância, ainda aumentou a pena do ex-presidente para 12 anos e um mês de prisão.
Na decisão, seguindo entendimento do STF, os desembargadores entenderam que a execução da pena deve começar após o fim dos recursos na segunda instância da Justiça Federal, o que significa dizer que, nos próximos meses, o ex-presidente pode ter a sua prisão declarada.
Como foi condenado por órgão colegiado da Justiça, o petista já foi automaticamente enquadrado como incurso no disposto de que trata da inelegibilidade da Lei da Ficha Limpa, ficando impedido de se candidatar nas próximas eleições.
A política se parece muito com o clube de vizinhança, onde há briga a todo instante, mas seus integrantes terminam se compondo, principalmente por conveniência e interesses pessoais, a exemplo do que ocorreu com o presidente do país, que foi massacrado e qualificado como o pior dos bandidos golpistas, somente por ter ascendido ao comando do país, em razão do afastamento da presidente petista da Presidência.
Agora que o ex-presidente está na iminência de ser degolado, em termos políticos, vem o peemedebista dizer que é preferível que o petista dispute as eleições, dando a entender que a trapaça e os conchavos podem ser forma de aproximação de políticos que até há pouco tempo andavam se engalfinhando e se odiando, mas esse estado de ânimo muda num instante, como mudam as nuvens no firmamento, apenas para atender às conveniências políticas, absolutamente de acordo com seus interesses pessoais e políticos.
Na verdade, exatamente ao contrário do que diz o peemedebista, o ex-presidente tem tudo para tensionar o país caso ele se candidate, nas condições de preso, justamente pela prática de crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, diante da patente e cristalina afronta à legislação de regência, em completa incompatibilidade com a dignidade e a honorabilidade exigidas para o exercício do nobre e principal cargo da República.
Causa espanto que o presidente do país se manifeste, sem ruborizar as faces, em favor de quem acaba de ter a sua prisão confirmada por colegiado da Justiça, declarando explicitamente que ele se tornou inelegível, justamente por ter cometido crimes graves contra o país e a sociedade, além de se insurgir publicamente contra decisões da Justiça, alegando que não as respeita nem as cumpre, por elas terem sido adotadas com base em mentiras, quando os autos estão robustamente recheados de provas sobre a materialidade da autoria dos fatos objeto das denúncias levadas à Justiça.
Além do mais disso, as lideranças de seu partido incitam a militância à desobediência civil, em desrespeitar o veredicto sobre a prisão do líder-mor, como se ele estivesse acima das leis do país e também fosse imune à eficácia das respeitáveis decisões judiciais.
Ao dizer que quer que um condenado à prisão seja candidato à Presidência da República, mesmo sabendo que ele se tornou inelegível, por força do disposto na Lei da Ficha Limpa, o presidente do país não somente perdeu excelente oportunidade para ficar calado, como incorre em crime, por se manifestar em clara afronta ao ordenamento jurídico, quando a sua opinião sugere a desobediência à legislação aplicável às eleições, além do que, a sua ideia absurda representa cristalina incoerência com o dever que tem de defender o primado da dignidade, moralidade e decência no exercício do principal cargo do país.
Os brasileiros precisam repudiar, com veemência, as palavras infelizes do presidente da República, por ele ter a responsabilidade cívica de defender a fiel observância dos salutares princípios republicanos e democráticos, no sentido da rigorosa preservação da integridade moral das instituições da República e do ordenamento jurídico, evitando propugnar, de forma leviana, pela candidatura de quem não tem condições morais para o exercício do principal cargo da nação, que exige, no mínimo, o preenchimento dos requisitos de idoneidade e conduta ilibada, entre outros essenciais à consolidação dos conceitos de dignidade, moralidade, legalidade, decoro etc. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 31 de janeiro de 2018

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