Com a finalidade de se evitar que o presidente
da
República seja acusado de crime de responsabilidade, a equipe econômica estuda
a elaboração de proposta de emenda à constituição, para amenizar a conhecida "regra
de ouro", que impede a União de emitir dívida em volume superior a
investimentos e custeio.
A proposta foi discutida, em caráter de urgência, em reunião entre o presidente
da Câmara dos Deputados e o ministro da Fazenda, ambos cotados para serem
candidatos à Presidência da República, além dos ministros do Planejamento e das
Cidades.
O
objetivo da regra é evitar que o Estado se endivide demais para pagar despesas
correntes, como gasto com pessoal e conta de luz, empurrando a conta para
outros governos.
A
PEC em estudo, que já tem até relator, que é deputado federal pelo MDB-RJ,
permite que a regra vigente seja descumprida sem que isso seja considerado
crime de responsabilidade, ou seja, trata-se de mais um golpe à moralidade, com
o beneplácito do jeitinho brasileiro.
Segundo
foi apurado, a proibição existente vigente será substituída por outra, como a criação
de novas despesas obrigatórias, como contratações ou reajustes salariais - os
mesmos mecanismos corretivos que entram em vigor se o teto de gastos for
descumprido.
Essas
sanções também valerão para Estados e municípios que descumprirem as regras, ou
seja, a pouca-vergonha será compartilha entre as unidades da federação, para
que ninguém se sinta prejudicado.
O
texto ainda está sendo elaborado em parceria com técnicos da Câmara e dos
Ministérios do Planejamento e da Fazenda.
Por
enquanto, ainda não foi definido se as novas regras teriam eficácia já neste
exercício ou se valeriam somente a partir de 2019, com o novo presidente eleito.
Um
economista da consultoria Tendências disse que a "A solução por mudar a regra do jogo reforça quão enroscado o governo
está no quesito fiscal. A ‘regra de
ouro’ passou a se tornar um problema à medida que o déficit foi se ampliando e
gerando nova dívida. Como a fonte do déficit decorre muito do crescimento de
gastos correntes obrigatórios, forçando o corte nos investimentos, então de
certa forma faz sentido buscar soluções que ataquem a fonte do problema: o
crescimento dos gastos obrigatórios".
Ele
ressaltou que mudanças de regras no meio do jogo sempre parecem "problemáticas. O problema aqui é que, enquanto não se resolve a fonte do problema, não
se cura o paciente, por mais que se tente recuperá-lo", fazendo alusão
à necessidade de aprovação da reforma da Previdência e reversão de desonerações
tributárias.
Segundo
opinião do mercado, o risco de descumprimento da “regra de ouro” aumentou com o
agravamento da situação fiscal, em que, de um lado, o governo tem emitido mais
títulos para financiar despesas e, de outro, foi obrigado a cortar
drasticamente os investimentos públicos, uma das poucas despesas que pode
manejar sem mudanças na legislação.
De
acordo com o Tesouro Nacional, em 2017, a situação deficitária foi resolvida
com o retorno de R$ 50 bilhões do BNDES aos cofres do Tesouro, mas, em 2018,
esse descompasso alcançará os R$ 184 bilhões.
Sem
previsão de devolução de recursos do banco, neste ano - o pedido é por R$ 130
bilhões adicionais, o que ainda está em negociação -, não se vislumbra solução
para o grave problema orçamentário.
O
diretor do BNDES afirmou, no início deste mês, que se tiver que repassar
recursos ao PIS/Pasep e ao FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), o banco não terá
como devolver ao governo federal os R$ 130 bilhões aguardados em 2018.
Ele
disse que o BNDES tem que repassar, no corrente ano, cerca de R$ 70 bilhões ao
FAT e ao PIS/Pasep, tendo concluído que "A devolução ao FAT é uma decisão institucional e, no caso do PIS/Pasep,
depende do volume de saques que até agora está baixo". Com informações
da Folhapress.
Não
é de agora que as contas públicas passam por solavancos e compressões decorrentes
da frouxidão dos gastos desenfreados de governos incompetentes e irresponsáveis,
que gastam além das previsões orçamentarias, por absoluta incúria, quando eles
precisam se ajustar aos termos dos princípios imperativos da economicidade e da
extrema contenção de despesas, de modo a cortar na própria carne, promovendo os
ajuste e as economias com vistas exclusivamente a cumprir as exigências da
legislação de regência.
Não
deixa de demonstrar cristalina incompetência o governante que, no momento do
aperto orçamentário, simplesmente recorre à solução simplista, de menor
esforço, que é o que o presidente mais impopular da história brasileira resolve
promover, com a eliminação da regra que pune com a perda do cargo o gestor público
que incorre no crime de responsabilidade, ou seja, gasta mais do que o
permitido pelo Congresso e continua descumprindo a regra imperativa, quando
deveria adotar revolução nos gastos públicos, como forma de se ajustar aos
limites constitucional e legal, ao invés
de tentar resolver o problema por medida legislativa, permitindo que os rombos
continuem normalmente.
Urge
que o Congresso Nacional, onde ficam os ditos lídimos representantes do povo,
tenha a majestosa dignidade de sequer aceitar essa indecente Proposta de Emenda
à Constituição, deixando de receber medida que se traduz em verdadeira esculhambação,
em termos de desmoralização da execução dos orçamentos públicos, e, ao
devolvê-la para a origem, se afirmar que os brasileiros exigem que o governo se
conscientize sobre a urgentíssima necessidade de ajustar as contas públicas,
como fazem os países sérios, civilizados e evoluídos, em termos políticos e democráticos,
exatamente ao limite da arrecadação das receitas, de modo que as despesas públicas
passem imediatamente ao devido processo de depuração e contenções necessárias e
cabíveis aos termos da legislação aplicável às normas de execução orçamentária
e financeira do país. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 5 de janeiro de 2018
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