domingo, 14 de janeiro de 2018

Enigma a desvendar

O presidente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região encaminhou ofício à presidente do Supremo Tribunal Federal e à Procuradoria Geral da República, relatando que desembargadores daquela Corte têm recebido ameaças.
A mesma situação foi também relatada aos deputados petistas, durante reunião, deixando muito claro que as ameaças podem ter origem possivelmente da militância que defende o petista e essa desconfiança fica patente exatamente na aproximação do julgamento dele.
O TRF-4 vai julgar os recursos do ex-presidente da República petista contra a condenação pelo juiz da Lava-Jato, da pena de nove anos e seis meses de prisão.
O presidente daquele tribunal também vai fazer relato desse mesmo fato à presidente do Supremo Tribunal Federal, dizendo das ameaças que a Corte tem recebido e mostrando o clima de intranquilidade quando se aproxima o dia do julgamento.
O presidente do TRF-4 já havia relatado as intimidações que magistrados têm sofrido, em reunião com deputados petistas, quando eles foram tratar de questões de segurança relacionadas às manifestações que o partido convocou a favor do ex-presidente.
Aos deputados, o presidente daquele tribunal disse que “Os senhores representam parcela da sociedade como membros do Poder Legislativo. Aceitamos prontamente a colaboração para assegurarmos a segurança de todos os envolvidos no julgamento do dia 24 e, também, pedimos que divulguem a mensagem por manifestações pacíficas” e isso mostra a visível preocupação dele para se evitar que os confrontos possam refletir no julgamento, considerando que os desembargadores precisam estar absolutamente seguros e imunes aos injustificáveis atos de represália.
Durante a reunião, o deputado líder do PT afirmou que o grupo que se reuniu com o presidente do TRF-4 representa “165 deputados do PT no país”.
Ele disse que “Estamos trabalhando para que tudo transcorra dentro das normas da Constituição Federal e das garantias individuais”.
O líder do Partido dos Trabalhadores entregou ao desembargador ofício pedindo para que o tribunal “viabilize um espaço destinado às autoridades para que assistam ao julgamento, no tribunal, via telão, já que a sala de sessão será somente para advogados e partes.”. O presidente garantiu, de pronto, que o pedido será atendido.
Uma deputada petista disse, com veemência que lhe é peculiar, que “O que nós fazemos aqui é ser parte da resistência que a população brasileira está compondo com trabalhadores e trabalhadoras já que está muito claro que não existem provas neste processo contra Lula e que a condenação dele pelo juiz Moro foi uma decisão política”.
Para a parlamentar, é preciso ter “‘confiança de que ‘o que está escrito no processo, se for lido, de fato pelos desembargadores, pelos que são responsáveis pelo julgamento, vai nos levar a um único resultado: absolver o presidente Lula. Porque não há nada sobre esse tríplex que justifique… não há nada contra o presidente Lula que justifique uma interferência no processo eleitoral só para retirar Lula nas eleições”.
A Justiça Federal informou que não foram proibidas manifestações nas proximidades do TRF-4, ficando claro que “A determinação judicial é para controlar o acesso de modo a assegurar a normalidade do trânsito de pessoas e veículos no entorno do Tribunal, garantido o direito de manifestação no Parque da Harmonia”.
Há controvérsia quanto à inexistência de provas no processo contra o ex-presidente, considerando o fato de que nenhum juiz, por mais medíocre que seja, jamais teria condições de julgar político de tamanha relevância, na qualidade de quem foi presidente da República, se não houvesse absoluta certeza de que as provas constantes dos autos não teriam condições de sustentar a materialidade da autoria sobre os fatos denunciados.
Impende ser salientado, sobretudo, que a responsabilidade do magistrado pode implicar no crime de prevaricação, quando ele julga e condena sem a existência de provas convincentes e plausíveis, que certamente não é o caso em comento, diante da sua sublime relevância para o país, por envolver o interesse público.
Na verdade, a opinião da deputada e, de resto, dos demais fanatizados simpatizantes do líder-mor está mais focada no fato de que, de tanto ele dizer que é inocente, ninguém mais precisa se importar se o que ele fala corresponde realmente à verdade, uma vez que ele garante que não tem culpa com relação aos fatos objeto das acusações, embora ele não tivesse condições de contestá-los na fase própria da ampla defesa e do contraditório, tendo prevalecida a convicção do magistrado, que o condenou à prisão, por nove anos e seis meses, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.   
Essa denúncia do presidente do TRF-4 é de extrema gravidade, porque demonstra que alguém pressiona e ameaça, visando intimidar as autoridades e as instituições constituídas, para tentar ganhar a causa no grito e na marra, nos moldes como se fazem nas piores republiquetas, onde não há respeito aos princípios republicano e democrático.
Trata-se de pura demonstração de desespero diante da possibilidade de se ver o reconhecimento e a confirmação da consumação de prática de atos contrários aos salutares conceitos de honestidade e dignidade nas atividades públicas, porque, ao contrário, haveria acatamento à soberana decisão judicial, como se processa com naturalidade nos países sérios, civilizados e evoluídos, em termos políticos, jurídicos e democráticos.
O presidente do TRF-4, por cautela e prudência, denúncia com bastante antecedência essa forma absurda de truculência contra o Estado Democrático de Direito, porque ameaças covardes representam o baixo nível de militância ou fanatismo que não admitem a realidade dos fatos e somente acham que devam prevalecer a sua verdade e a sua vontade.
Convém que os brasileiros honrados e ansiosos pela moralização do Brasil se unam ao presidente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, para repudiar atitudes incivilizadas como essas, que somente demonstram involução dos princípios político e democrático, a par de exigirem que sejam tomadas as devidas providências preventivas, no sentido da identificação desses mentores com ideias distorcidas, para servir de exemplos disciplinar e pedagógico, evitando-se qualquer consequência maléfica para o trabalho das instituições da República. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 14 de janeiro de 2018

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