sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

O enfrentamento da verdade

Desde quando o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil dos governos petistas decidiu fechar acordo de delação premiada com o Ministério Público da Operação Lava-Jato, o Partido dos Trabalhadores entrou em visível estado de alerta máximo.
Em depoimento ao juiz da Operação Lava-Jato, em setembro do ano passado, o ex-ministro foi certeiro em golpear o ex-presidente da República petista, com duras, inéditas e estrondosas revelações, quando referiu-se ao que ele denominou de “pacto de sangue” entre o político e a construtora Odebrecht, para financiamentos políticos e pessoais dele, em troca de contratos com os governos petistas, em especial com a Petrobras.
Antes, ainda em abril, em forma mais de puro alerta, ele já havia avisado ao magistrado de Curitiba que poderia apresentar “fatos com nomes, endereços e operações realizadas, um caminho que vai lhe dar mais um ano de trabalho e que faz bem ao Brasil” e isso já tirou o sono de muita gente do partido, por se tratar do anúncio de conversa versando sobre chumbo grosso mandado em direção ao maior líder do partido e ao líder-mor.
Apesar de a delação ainda estar, no momento, praticamente em "banho-maria", setores do PT seguem traçando estratégias para tentar minimizar os prejuízos causados pelas possíveis revelações do ex-ministro, que podem surgir em momento delicado por que passa o petista.
Ao que tudo indica, uma das estratégias, de acordo com importante colunista do jornal Folha de S. Paulo, é esmiuçar os depoimentos do ex-ministro, para se apontar lapsos de memória, em proveito do acusado.
O partido entende que não faz muito sentido se aceitar que a metralhadora do ex-ministro e agora ex-petista tenha foco e alvo exclusivamente o ex-presidente.
O ex-ministro deixou de ser filiado ao partido, em setembro do ano passado, quando pediu à presidente nacional da sigla, por meio de carta solicitando a sua desfiliação da legenda, que foi feita após a executiva do PT de Ribeirão Preto (SP) aprovar, por unanimidade, a abertura de procedimento para a expulsão dele do partido.
No documento, o ex-ministro também acusou o ex-presidente de “sucumbir ao pior da política”, tendo reafirmado que ele estava negociando acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal e reiterado as acusações feitas em depoimento ao juiz da Lava-Jato, e ainda mandou a ideia de que o PT firmasse acordo de leniência “reconhecendo as graves falhas e enfrentando a verdade”.
O ex-ministro mostrou absoluta convicção sobre as revelações que fizera, diante da segura afirmação de que “Estou disposto a enfrentar qualquer procedimento de natureza ética no partido sobre as ilegalidades que cometi durante nossos governos, as razões e as circunstâncias que me levaram a estes atos e, mesmo considerando a força das contingências históricas, suportar pessoalmente as punições que o partido julgar cabíveis”.
Diante da carga pesadíssima que constituem os fatos revelados pelo então petista, com a dureza da verossimilhança e da plausibilidade, com poder devastador de arrasar por completo a já enlameada reputação pessoal e política do maior líder petista, que se encontra implicado com inúmeras denúncias na Justiça, pouco importa o esmiuçar os depoimentos do ex-ministro, para se apontar lapsos de memória”, exatamente porque dificilmente isso terá o condão de sequer abalar as estruturas fundamentais e profundas das denúncias em si, que são simplesmente arrasadoras.
O partido poderia até evitar piorar o seu já bastante desgastado conceito se tivesse a sensibilidade e a dignidade de aceitar o conselho do conceituado delator, no sentido de aceitar a realidade sobre os fatos, declinando-se ao acordo de leniência, “reconhecendo as graves falhas e enfrentando a verdade”, ao invés de procurar esmiuçar algo que certamente não passa de desculpa esfarrapada, com resultado absolutamente inócuo e sem a menor validade jurídica, que somente reafirma a fragilidade da parte que prefere se omitir e deixar de reconhecer a homérica culpa por atos e fatos que causaram astronômicos prejuízos ao patrimônio dos brasileiros.
Certamente que a Justiça cuidará de revelar, mais cedo ou mais tarde, a verdade para a ávida sociedade, igualmente lesada na sua dignidade como responsável por eleger os homens públicos, que não tiveram a sensatez e a sinceridade de assumir as suas culpas pelos fatos que causaram astronômicos prejuízos ao patrimônio dos brasileiros. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 12 de janeiro de 2018

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