sábado, 6 de janeiro de 2018

A mordaça, como a salvação?

Seguindo à risca o roteiro inevitável das ditaduras, que não toleram a mínima discordância, o regime chavista comandado com mão de ferro pela tirania do presidente cruel e desumano só faz aumentar a repressão aos meios de comunicação que ainda ousam – agora em número cada vez menor – criticar atos do governo.
O Sindicato Nacional de Trabalhadores da Imprensa (SNTP, na sigla em espanhol) mostra, no seu relatório anual de 2017, a cruel realidade sobre a velocidade do crescimento da progressividade imprimida pelo governo com relação ao fechamento do cerco à liberdade de imprensa na Venezuela.
Aquele sindicato diz que o regime ditatorial atua, de forma abrangente, em duas frentes, ou seja, diretamente sobre os órgãos de comunicação e na intimidação a jornalistas, por meio de detenções e agressões.
Somente em 2017, foram fechados 69 veículos de comunicação, sendo 46 emissoras de rádio, 3 televisões e 20 jornais, mediante procedimentos autoritários e discricionários, como no caso das emissoras, em que a tática é a de não renovar as concessões de funcionamento, ficando explícito que somente há renovação, em forma de privilégio, para os órgãos dóceis e submissos ao regime.
No caso dos jornais não se submetem aos seus desejos do regime bolivariano, para tornar impossível a sua sobrevivência, o governo usa seu poder de não conceder os dólares necessários para a importação de papel de imprensa, obrigando o fechamento deles.
Nessa linha duríssima contra os meios de comunicação, as sedes de 14 outros veículos de comunicação sofreram ações de intimidação das autoridades bolivarianas, que têm sido vistas como atos de preparação para o fechamento, muito em breve, também deles.
          Na repressão aos jornalistas, o sindicato disse que foram registradas 498 agressões feitas por policiais e militares – das quais 273 durante a cobertura das manifestações contra o governo, que deixaram o saldo de 125 mortos – e 66 detenções de profissionais.
O número de agressões foi 26,5% maior que o do ano de 2016, fato que mostra como vem se acelerando a escalada de violência contra os jornalistas, que trabalham sob rigorosa censura.
Da perseguição aos meios de comunicação, a insensatez da repressão não livrou sequer as emissoras de televisão estrangeiras, a exemplo das colombianas RCN e Caracol e da rede norte-americana CNN em espanhol, que foram proibidas de atuar na Venezuela, justamente por transmitirem para o resto do mundo a verdade nua e crua sobre a crueldade ditatorial imposta naquele país.
Na tentativa de mostrar aparente legalidade aos ataques cerrados e sistemáticos à liberdade de expressão, o regime ditatorial chavista inventou a Assembleia Nacional Constituinte, que foi “eleita” de propósito, tendo como principal escopo satisfazer as suas vontades de pura tirania, como a aprovação da lei que pune com pena de 20 anos de prisão e exclusão dos meios de comunicação os jornalistas que ousarem discordar da ditadura sanguinária implantada na Venezuela.
As emissoras que forem apenas consideradas em estado de rebeldia, que conseguiram escapar do fechamento puro e simples, o Estado tem o poder de obrigá-las a difundir, por durante 30 minutos semanais, matérias que promovam “a paz, a tolerância e a igualdade”, como se isso acontecesse realmente naquele país de índole repressora.
Na prática, o regime bolivariano montou verdadeira armadilha para enquadrar, sem escapatória, os órgãos de comunicação ou jornalistas que ousem pensar diferente do chavismo ou contrariá-lo.
Segundo o mencionado sindicato, os reais objetivos da repressão à imprensa são o de realmente esconder da população, o máximo possível, os erros, as mazelas e as arbitrariedades impostos pelo regime ditatorial, o que somente tem sido possível na forma de “silenciar, a qualquer preço, o descontentamento causado pelas situações econômica e social cada vez mais críticas”.
Não há a menor dúvida de que a truculência contra os meios de comunicação na Venezuela é forma arranjada para se evitar que sejam omitidas as levas de notícias ruins, dando conta do verdadeiro desastre causado pelo famigerado governo chavista, que se encontra completamente mergulhado no caos e no abismo, em profusão de fatos lamentáveis, com a própria falência dos serviços públicos, o desastre da economia, representada pelas hiperinflação, escassez de alimentos e medicamentos, entre outras tantas mazelas a sinalizar para o fim trágico daquele país.
Enquanto era divulgado o relatório do SNTP, outro importante levantamento estava sendo noticiado pelo Observatório Venezuelano da Violência (OVV), que mostra estatística estarrecedora e impressionante sobre a violência naquele país, que foi o segundo mais violento da América Latina, só perdendo para El Salvador.
Segundo o referido levantamento, em 2017, foram registrados 26.616 assassinatos na Venezuela, mostrando altíssimo índice de 89 assassinatos por 100 mil habitantes.
O OVV esclarece que o expressivo aumento da violência é “uma nova forma de criminalidade, inédita no país”, que é vinculada às crises que grassam naquele país, tendo se verificado que muitas mortes “são provocadas por disputas por alimentos até entre integrantes da mesma família” e que essa triste situação “é apenas o aspecto mais dramático da crise gerada pelo chavismo, que está semeando a fome e o desespero na Venezuela.”.
Ante as ilimitadas dificuldades para solucionar as graves crises, de toda ordem, criadas pelo desastrado regime socialista, o governo se volta contra a imprensa e os meios de comunicação, para impedir que os fatos não possam ser divulgados, na sua real extensão de pura desumanidade contra a população, que é a principal vítima da incompetência e da ganância de trogloditas, que simplesmente utilizam o povo como massa de manobra, submetendo-o aos piores sacrifícios, para permanecerem no poder.
 Como não tem como resolver a crise, pois só há incompetência para provocá-la, uma das alternativas eficazes, como forma possível para a perpetuação no poder, a qualquer custo, como atitude própria das ditaduras, é aumentar, em escala crescente e acelerada, a repressão aos meios de comunicação, na tentativa de silenciar a imprensa, que tem o poder de denunciar os desmandos e os maus-tratos contra a população.
Os brasileiros precisam se cuidar acerca do péssimo exemplo de perseguição à imprensa, porque ele pode ser seguido, sem a menor dificuldade pelo principal político brasileiro, que já disse, em bom e alto som que, se eleito presidente do país, uma de suas metas prioritárias é exatamente a regulação dos meios de comunicação, pelo fato de eles serem acusados da divulgação das notícias dando conta dos escândalos ocorridos na Petrobras, que, segundo ele, são responsáveis por prejudicarem seus projetos políticos e os do partido dele.
Com certeza, essa regulação deverá seguir o modelo draconiano da Revolução Bolivariana, tendo por meta o enquadramento das empresas de comunicação, que ficarão impedidas de bem informar, que é exatamente o seu principal ofício.
Convém que a sociedade se manifeste, o quanto antes possível, com recado claro e objetivo para os políticos brasileiros de esquerda de que, ante a sublime importância do saudável princípio da transparência, próprios das nações sérias, civilizadas e evoluídas, em termos políticos e democráticos, onde ele é defendido com ardor, não comunga com a ideia absurda e ditatorial de regulação dos meios de comunicação, que tenha por finalidade qualquer forma de restrição da importante missão institucional de bem informar os fatos, ante a sua relevante contribuição ao desenvolvimento econômico e social do país. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 6 de janeiro de 2018

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