terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Injustiça tributária

Tem sido comum, em todo início de ano, o Sindifisco fazer pressão para que o governo envie ao Congresso Nacional proposta de correção da tabela do Imposto de Renda, tendo por base, no mínimo, o índice de inflação do ano anterior, como forma de minimizar os efeitos da corrosão salarial, uma vez que ela deixou de ser atualizada nos últimos dois.
Com a correção da tabela, a faixa de isenção do IRPF aumenta e os demais contribuintes pagam menos imposto e isso parecia que poderia acontecer este ano, quando, em dezembro último, o ministro da Fazenda acenou com a possibilidade da correção da tabela e dos benefícios do programa Bolsa Família.
É evidente que o governo deixa de arrecadar mais com a correção da tabela, mas, com o reajuste do Bolsa Família, as despesas são aumentadas para o Tesouro Nacional, o que é mais difícil de ser administrado por conta do teto de gasto, instrumento que limita o crescimento das despesas, enquanto a perda de receita pode ser administrada com o aumento da arrecadação.
Segundo estudo realizado pelo Sindifisco, a tabela do IR foi corrigida em 109,63%, de 1996 até hoje, enquanto a inflação acumulada no período foi de 294,93%, havendo estrondosa defasagem entre o índice oficial e aquele aplicado na correção da tabela do Leão.
O presidente do Sindifisco disse, em tom de crítica, que "O governo achata a renda do trabalhador. Obriga-o a pagar mais imposto, dinheiro que poderia ser mais bem aplicado - na poupança, no aprimoramento da formação educacional, no consumo etc.".
Ainda segundo o Sindifisco, a falta de correção não afeta somente o trabalhador de menor salário, mas também as demais faixas salariais e que "O prejuízo do contribuinte não ficou maior porque o IPCA de 2017 foi um dos mais baixos em quase 20 anos".
A questão tributária talvez seja a mais complexa da República, porque há anos que as despesas são superiores às arrecadações e o governo não enxerga outro caminho senão meter a mão pesada no bolso dos contribuintes que são obrigados a arcar com uma das cargas tributárias mais onerosas do mundo e ainda são sacrificados por meio da pior prestação dos serviços pelo governo, em termos de saúde, educação, segurança pública, entre outros que são inversamente proporcionais à agressividade da máquina arrecadadora, que não pensa em aliviar ou minimizar o sacrifício dos brasileiros.
          É bem provável que, nas piores republiquetas, os contribuintes não sejam tão penalizados pelo Leão, onde a tabela do IR deve ser corrigida normalmente com o mesmo índice da desvalorização da moeda, porque esse é o mínimo que os governos precisam fazer para não prejudicar o bolso do contribuinte, que é sempre chamado para arcar com a incompetência e a insensibilidade tributárias da gestão pública.
Tempos atrás, o Supremo Tribunal Federal foi acionado para obrigar o governo de então a corrigir a tabelo do IR, no percentual defasado, mas é bem possível que essa ação, de pura justiça, faça parte das 45 mil que se encontram travadas naquela Corte, que poderia pensar um pouco no já sacrificado contribuinte e analisar essa matéria, que certamente aliviaria o bolso de quem paga os subsídios dos ministros, que igualmente devem sentir na pele o aperto neles.
Agora essa de o governo ignorar a desvalorização da moeda, logo ele que é responsável por apurar os índices econômicos, não passa de grande injustiça contra aqueles que são responsáveis pela manutenção da máquina pública inchada e dispendiosa.
O certo é que o contribuinte tem sido continuamente penalizado com escorchante e inevitável obrigação tributária, por ser injustificável que ele pague pela incompetência do Estado, que não promove a imprescindível reforma das estruturas da máquina pública e das suas conjunturas operacionais, para se tornar enxuta, eficiente e acima de tudo contenciosa, como forma de aliviar a agressividade tributária.
Urge que o governo repense a sua mentalidade insensata, injusta e perversa de tributar os contribuintes, sempre com as garras afiadas e mortíferas do Leão, de modo que a insuportável carga tributária seja reformulada, com o máximo de urgência, observada, sobretudo, a capacidade contributiva dos cidadãos, que não suportam mais tanto arrocho imposto pelas mãos pesadas dos tributaristas governamentais, que foram programados com o exclusivo intuito de estrangular o já sacrificado trabalhador assalariado. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 16 de janeiro de 2018

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