segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

A notável fragilidade

O ministro da Casa Civil da Presidência da República disse que o governo não vai desistir de nomear a deputada fluminense do PTB como ministra do Trabalho, porque “O governo tem absoluta convicção de que o direito está a seu favor“, em alusão ao disposto no artigo 84, caput e inciso I, da Constituição Federal.
Segundo o ministro, essa crença na Carta Magna respalda o governo a “prosseguir na disputa judicial, com vistas a dar posse à deputada Cristiane Brasil, já nomeada, como titular do Ministério do Trabalho. A decisão política, de nomear e dar posse a Ministros de Estado, é privativa do Presidente da República”. 
Após novo revés sofrido pelo governo, a equipe do presidente do país ainda estuda a melhor estratégia jurídica, se recorrer ao Supremo Tribunal Federal agora ou esperar o retorno dos trabalhos do judiciário, já que o processo em questão foi distribuído eletronicamente a um ministro que tem sido favorável aos pleitos governamentais, fato esse que já acena para a adoção de medida da conveniência que certamente não é do interesse público, mas sim exclusivamente do governo.
No Palácio do Planalto, interlocutores do peemedebista já destacam receio da cúpula do governo com a “ingerência do Judiciário” em atribuições do executivo, à vista da posse em apreço, porque, nos próximos meses, o presidente brasileiro será obrigado a promover uma série de substituições no primeiro escalão, exatamente por conta das eleições, quando alguns ministros são obrigados a se desincompatibilizarem dos cargos, para concorrer nas eleições.
Na avaliação de interlocutor da Presidência da República, até abril, prazo fatal para os concorrentes deixarem os cargos na Esplanada dos Ministérios, é precisa estar “muito claro que nomear ministros é atribuição do presidente”, tendo em conta que novas situações como a da deputada carioca podem agravar ainda mais as relações entre os poderes da República.
A presidente do Supremo suspendeu temporariamente a posse da deputada federal fluminense como ministra do Trabalho, em que pese o governo já ter até marcado a cerimônia para período bem cedo da manhã, justamente para se evitar novas liminares, que foi inevitável.
É bastante sintomático que o ministro da Casa Civil tenha posto em destaque apenas o dispositivo que respalda a competência privativa do presidente de nomear os titulares dos ministérios, mas fechou os olhos, certamente de propósito, para outros importantes dispositivos que tratam da moralidade e da dignidade que precisam ser fiel e rigorosamente observados quando das nomeações, ficando assente que, sem essa observância, o ato pode ser perfeitamente questionado e posto sob suspeita, eis que a deputada não conseguiu demonstrar zelo em relação à observância da legislação trabalhista,  conforme mostram os fatos, muito bem interpretados pelo Poder Judiciário, que tem o dever constitucional de primar pela decência na administração púbica, a despeito de o Poder Executivo mostrar, de forma escancarada, completa ignorância à moralização da administração do país.
Certamente que não fosse o vergonhoso e escrachado balcão de moeda de troca existente no Palácio do Planalto, em permanente negociata com os congressistas, que tem como pano de fundo o apoio aos projetos do governo no Congresso Nacional, certamente que o presidente brasileiro já teria desistido da insistência de dar posse a pessoa que tem o sinete na testa, indicando que ela não preenche os requisitos de moralidade e dignidade para assumir o cargo tão importante da República.
É bastante lamentável que o presidente do país demonstre tamanha subserviência a um partido, por não ter autonomia, autoridade e responsabilidade para reconhecer a sua estupidez de ter nomeado alguém para ser ministro de Estado com a importância do Trabalho, que precisa ser competente, em termos técnicos, e ainda estar acima de qualquer suspeita, sob o aspecto da imacularidade, em condições de corresponder à altura da relevância do cargo a que se refere.
Ao insistir com a nomeação de pessoa questionável, o governo se fragiliza politicamente diante da opinião pública, que gostaria que os órgãos da República fossem ocupados observado exclusivamente o critério do mérito, que exige a comprovação de competência e qualidades cívicas que não impeçam o exercício normal do cargo, principalmente no que diz respeito aos conceitos da moralidade e dignidade. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 22 de janeiro de 2018

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