segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

À espera do polimento político

Ao declarar que só abandona a sua candidatura à Presidência da República se for morto ou tirado "na covardia", o deputado federal do PSC-RJ, publicou em suas redes sociais a primeira manifestação de viva voz sobre reportagens da Folha de S.Paulo, que relataram o patrimônio dele e dos filhos parlamentares, além do recebimento de auxílio-moradia mesmo tendo apartamento próprio em Brasília.
Ele disse que "Só em duas situações eu posso não estar, neste ano, no debate presidencial: se me tirarem na covardia por um processo qualquer, na covardia, (...) ou se me matarem. Não tô preocupado com isso. Se me matarem vão ter que me enterrar, vão arranjar outro Celso Daniel (prefeito petista, assassinado em 2002).".
Em reportagens publicadas pelo jornal Folha de S.Paulo, foi mostrado que o deputado fluminense e seus três filhos parlamentares multiplicaram o patrimônio na política, tendo hoje 13 imóveis em pontos valorizados do Rio de Janeiro e de Brasília, com preço de mercado de, pelo menos, no valor de R$ 15 milhões.
Também foi relatado que o presidenciável e um dos filhos, que é também deputado federal, recebem mensalmente R$ 6.167,00 de auxílio-moradia da Câmara dos Deputados, mesmo tendo apartamento próprio em Brasília.
O presidenciável respondeu o que ele chama de ataque à sua candidatura, dizendo: "Por exemplo, pegaram meu patrimônio [e disseram]: 'Óóóó´, ele tem um apartamento em Brasília e recebe auxílio-moradia'. Tenho sim, apartamento de aproximadamente 60 metros quadrados (na verdade, 69 metros quadrados). Que que eu posso fazer? Vender o apartamento, comprar aqui no Rio de Janeiro um outro imóvel e ir morar num apartamento mansão da Câmara, de 200 metros quadrados, alguns com hidromassagem, com tudo, com segurança, que eu não vou pagar. Não vou pagar IPTU, não vou pagar condomínio".
O deputado carioca estranhou o motivo pelo qual "Estão implicando em R$ 3.500, R$ 3.600 que eu recebo a título de auxílio-moradia, como se eu fosse um bandido...”, embora essa verba possa ser recusada pelos congressistas, a exemplo do que fizeram, em novembro último, 27 dos atuais 513 parlamentares, que abriram mão dela.
O deputado confirma que o valor atual de seu patrimônio e dos três filhos também parlamentares é o que realmente foi divulgado pela Folha de S.Paulo, nestes termos: “Pegue o patrimônio dos três (quatro, na verdade), se for atualizar o nosso patrimônio, deve ser aproximadamente isso que eles botaram lá, R$ 13 milhões (ao menos R$ 15 milhões)".
A sociedade precisa avaliar como se comporta o candidato à Presidência da República, quando é questionado sobre determinada situação, mesmo que ele esteja certo, mas a forma que usa não parece a mais adequada, como essa dita por ele, nestes termos, que falta polimento, para o homem público do mínimo de educação: "A Folha (de S.Paulo) pega e multiplica os anos todos que estamos em Brasília, soma com meu filho e dá um milhão: 'Ganhou um milhão de auxílio-moradia'. Ao longo de quantos anos? Eu não sei, de 20 anos? É um crime, é um jornal canalha, a Folha de S.Paulo é um jornal canalha!". 
Ou seja, isso poderia ter sido explicado com jeito e de forma respeitosa, sem esboçar agressão, mesmo que o jornal, na opinião dele, seja realmente canalha, porque, não somente para o político, mas para o ser humano, vale muito mais a forma cortês e elegante de serem analisados e explicados os fatos.
Na mesma linha, o deputado carioca disse que "Eu não vou responder (as perguntas enviadas pela reportagem). Folha de S.Paulo, venha aqui, senta aqui, senta aqui, traga aqui seus homens, seus contadores, seus advogados, seus jornalistas e vamos conversar. E eu vou gravar. As duas últimas vezes que fizeram isso comigo, e não fizeram mais, se deram mal. Me chamar de corrupto, aí complica. Dá a entender que eu sou corrupto como uma parte são os parlamentares, aí complica, aí fica difícil. Isso não é jornalismo, isso é um trabalho porco da mídia.".
A Folha de S.Paulo esclareceu que a assessoria do deputado foi procurada, para a marcação de local e hora para nova entrevista.
No vídeo, o parlamentar disse ser o único candidato que não irá "compor" para obter governabilidade, porque: "Governabilidade pra eles é ratear o poder público, ministérios, estatais".
Ele defende medidas radicais para resolver alguns dos problemas do Brasil, nestes termos: "A gente vai resolver as questões do Brasil e ponto final (não quis explicar de que maneira). E certas coisas tem que ser com radicalismo. Como você vai combater a violência, soltando pombinhas? Dizendo que são excluídos da sociedade? 'Ah, vamos investir em educação'. Sim, tem que investir em educação, mas o reflexo vai ser daqui a 30 anos no tocante à violência. Nós temos como resolver os problemas do Brasil, sem salvador da pátria, mas com salvadores, que será a grande maioria da população brasileira, que pensa como eu.".
Não há a menor dúvida de que as questões graves e emergentes precisam ser resolvidas com medidas adequadas e precisas, mas é conveniente que o presidenciável procure agir com a necessária prudência e com o assentimento do povo que precisa concordar com as mudanças que a administração do país exige, de modo que as medidas radicais sejam aplicadas em doses palatáveis, sem exagero e nos limites da razoabilidade, para que elas não sejam transformadas em medidas próprias dos regimes de exceção, que não levam em conta os princípios civilizatórios e humanitários.
As experiências mostradas pelas nações sérias, civilizadas e desenvolvidas, em termos políticos e democráticos, ensinam que os homens públicos precisam ser transparentes e terem a humildade de explicar os fatos com serenidade e acima de tudo levando em conta o respeito aos sentimentos humanos, porque uma nação prospera e se constrói com base na harmonia, na união e na força do seu povo.
Não fica bem para político sério e competente criar clima de inconformismo e de irritação, sempre que surgir caso envolvendo seu nome, e depois falar somente o que pensa, sem se ater às consequências de seus atos e muito menos deixando de esclarecer os fatos, porque isso é o mais importante na vida pública, ou seja, oferecimento de informações claras e objetivas sobre os acontecimentos, sem querer se passar por santo, porque os santos são os mártires que já estão no céu.
O caso do auxílio-moradia vem a calhar, onde, nesse episódio, o parlamentar precisa apenas ter a humildade de mostrar que o recebe em conformidade com as normas que regem a matéria, mas, em caso contrário, ele tem o dever de se dignar, se for o caso, a corrigir o erro, o quanto antes, mediante a restituição dos valores recebidos indevidamente e deixar de recebê-lo, justamente por se tratar de algo que possa estar irregular.
Em princípio, o parlamentar mostra irritação quando é questionado sobre algo que ele apenas precisa ter a obrigação e a gentileza de explicar, tão somente com serenidade e educação próprias dos estadistas, mostrando evolução de princípios, que devem se dignar a prestar contas à sociedade sobre os fatos da vida pública, com o respeito que ela merece, além de se colocarem à disposição para resolver os problemas e aceitando, de bom grado e com simpatia, sugestões para melhorar seu relacionamento com a sociedade, porque o homem público nada mais é do que o lídimo representante do povo, a quem deve ser fiel na sua vontade de ter o melhor relacionamento possível com ele.
É muito difícil para o homem público como o deputado fluminense compreender o real sentido das colocações apresentadas a ele pela reportagem, que, por mais ácidas que sejam as indagações, as dúvidas suscitadas, elas têm o objetivo de trazer o debate para o seio da sociedade, em se tratando de homem púbico, mas, na opinião dele, ao que transparece, tudo não passa de conspiração que pode até concorrer para tirá-lo da corrida presidencial, pela via da morte, como infantil e ingenuamente é insinuado por ele, mostrando completa imaturidade política, em termos de discussão de assuntos próprios da vida pública, que são discutidos normalmente nos países sérios, civilizados e evoluídos, em termos sociais, políticos e democráticos.
Quanto ao seu patrimônio, basta mostrar, mesmo que isso seja trabalhoso, a legitimidade da origem e da evolução histórica dele, para que o assunto seja encerrado o quanto antes possível e melhor, como forma de se evitar que isso seja explorado ad aeternum, o que não é bom para político que faz questão de primar pela boa imagem do seu nome e repudiar a ideia de corrupto, que realmente deve ser a pior marca na história política do homem público, obviamente para quem tem dignidade, vergonha na cara e sabe perfeitamente o que isso significa, o que, aliás, são princípios raros em muitos políticos tupiniquins, conforme mostram os fatos.
É aconselhável que o batalhador capitão que, se realmente pretende ser presidente dos brasileiros, faça homérico esforço para agir em seus atos sempre depois de calçar as sandálias da humildade e não ter medo de ser autêntico e verdadeiro, mas sem truculência, arrogância nem subserviência e muito menos com o rancor de que a sua verdade é mais verdadeira de todas, inclusive da opinião pública, que precisa ser respeitada, avaliada e até reverenciada, sobretudo levando-se em conta que cautela, prudência e caldo de galinha fazem um bem danado, principalmente aos homens públicos, que têm o dever ínsito de defender o interesse público e prestar contas sobre seus atos decorrentes das atividades político-administrativas. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 15 de janeiro de 2018

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