O
ex-presidente da República petista é acusado de ter recebido propina da
empreiteira OAS, por meio da reserva e de benfeitorias de um apartamento
tríplex em Guarujá (SP).
Por
causa disso, na sentença proferida pelo juiz da Operação Lava-Jato foi
mencionado, como argumentos para condenar o petista à prisão a ascendência dele
sobre diretores da Petrobras, o fato de o apartamento nunca ter sido colocado à
venda pela OAS e a personalização produzida no imóvel, que não foi feita em
outras unidades, além, evidentemente, das provas testemunhais e até
documentais, que, na avaliação do magistrado constituem elementos suficientes
para a formação de juízo sobre a materialidade da autoria dos fatos
denunciados.
No
âmbito do seu dever, a defesa do político nega, sobretudo, a propriedade do imóvel
em questão, apenas declarando que ele o visitou uma única vez.
A
defesa afirmou ainda, com veemência, que não há vínculo da propriedade do
imóvel com contratos da Petrobras citados pelo Ministério Público Federal e que
o apartamento até hoje está sob responsabilidade da empreiteira.
Em
caso de condenação em segunda instância, o ex-presidente fica inelegível, por
forma do que dispõe a Lei da Ficha Limpa, mas ele pode se manter na disputa à
Presidência da República, mediante indefinidos recursos à Justiça.
Contrariando
a orientação de sua assessoria jurídica, o líder-mor petista está em Porto
Alegre, nesta terça-feira, véspera de seu julgamento pelo Tribunal Regional
Federal da 4ª Região (TRF-4).
O
político participará de marcha, com a participação dos manifestantes, que sairá
da Esquina Democrática, no centro da cidade, dando início à vigília pela
absolvição dele.
Amanhã,
o ex-presidente terá sua apelação julgada pelo TRF-4, acerca da condenação à
prisão, pelo juiz responsável pela Operação Lava-Jato, a nove anos e seis meses,
pela prática dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O
Instituto Lula informou que o político participará da citada marcha e
regressará a São Paulo ainda nesta terça-feira, segundo se informa para evitar
a impressão de afronta ao Judiciário e incitação à violência, sob a alegação de
que a viagem a Porto Alegre representa "gesto de carinho".
Segundo
um petista, o ex-presidente sentiu-se na obrigação de ir a Porto Alegre, depois
de ter constatado a importância da mobilização nacional e internacional em seu
apoio e isso teve o peso para a decisão, diante do apelo de lideranças petistas
para que ele prestigiasse os militantes que viajaram em 500 caravanas.
O
vice-presidente do PT disse que "Multiplica
muito o entusiasmo a vinda de Lula. Teremos mais mobilização. Não aceitaremos
calados a violência à democracia brasileira. O dia de hoje foi vitorioso. Muita gente questionava nosso direito de
se manifestar.".
Uma
dirigente gaúcha da Frente Povo Sem Medo disse que, já que "o julgamento de Lula é político",
sua vinda é legítima, tendo completado: "Fortalece toda agenda partidária contra as reformas (trabalhista e
previdenciária).".
À
toda evidência, a ida do petista a Porto Alegre apenas demonstra tremenda falta
de bom sendo e racionalidade, considerando que se trata de encontro que tem por
objetivo, quer queira ou não, o acirramento dos ânimos da militância que vem
ameaçando as autoridades e as instituições com atos de violência e destruição,
inclusive prometendo mortes aos juízes e familiares deles.
Se
o político quisesse demonstrar o mínimo de sensibilidade e sensatez, teria
apenas feito vídeo com mensagem de pacificação e de harmonia, para que a
militância se manifestasse em clima de tranquilidade, evidentemente
aproveitando para agradecer, como de praxe, pelo apoio que vem recebendo de
seus idólatras.
Nas
circunstâncias, a presença dele na sede do tribunal que vai julgá-lo demonstra
cristalina disposição para afrontar a autoridade dos juízes, na tentativa de intimidá-los
e ganhar a causa no grito e na marra, imaginando que o Brasil é uma
republiqueta sem autoridade e suas leis não podem ser aplicadas contra quem se
julga acima delas.
A
verdade é que, se houver qualquer ato de violência e se o confronto causar alguma
forma de desordem pública, resta provado que a ida do petista à capital gaúcha
serviu para turbinar ainda mais os ânimos da militância, que certamente vai se
achar no direito de incendiar aquela cidade, diante do respaldo do seu
líder-mor, que não teve a sabedoria para entender que o momento é por demais
delicado e exige cautela e prudência, principalmente porque a decisão
certamente será prolatada com base nos elementos dos autos, com a consistência
capaz de se firmar o entendimento sobre a culpabilidade ou a inocência do já
condenado, que não conseguiu convencer o juiz da primeira instância sobre a sua
imaculiridade quanto aos fatos objeto da denúncia fundada no recebimento de
propinas da construtora OAS.
Os
brasileiros esperam que o político seja mais consciencioso sobre a necessidade
de compreender que o denunciado por desvio de conduta é somente ele, que tem a
obrigação pessoal de se defender das acusações, com os meios juridicamente válidos,
principalmente na forma da ampla defesa e do contraditório, com embargo de
condenáveis mobilizações da sociedade, normalmente desinformada sobre as
circunstâncias da demanda na Justiça, que precisa ser respeitada, sob o primado
do Estado Democrático de Direito, conquanto suas sentenças são respaldadas na
existência da materialidade da autoria dos fatos denunciados, à luz da
legislação aplicável à espécie. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 23 de janeiro de 2018
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